Criatividade – O Super Poder dos Novos Gestores (e a Kryptonita dos Estagnados)

Artigo

O “Músculo” da Criatividade
Todos somos familiarizados com o conceito da criatividade – uma capacidade aclamada como inata, para criar ideias e soluções “do outro mundo”. Do latim “creare”, criatividade significa a atividade de criar, produzir ou inventar coisas novas. Diariamente todos nós geramos ideias novas e, por isso, de sobre-humano a criatividade tem pouco. Sim, é verdade! Todos nós criamos soluções novas e por isso somos criativos.

O mundo tem o estranho hábito de dividir os indivíduos em “criativos” e “não criativos”, como se uns fossem abençoados por Deus com este dom, e os outros por dons diferentes, como o cálculo mental, por exemplo. No entanto, todos os dias, são-nos impostos novos problemas aos quais temos de dar resposta: dos mais complexos, como prevenir o envelhecimento da população ou a desflorestação da Amazónia, até aos mais simples e quotidianos, como preparar uma refeição rápida e saudável para toda a família. A multiplicidade de respostas a estes desafios são a prova da capacidade criativa de todo o ser pensante.

Quanto ao inatismo desta faculdade, apesar de algumas das nossas características (como a inteligência) revelarem uma carga genética importante, estas apenas se manifestam e desenvolvem quando treinadas. A criatividade não foge à regra: como diz David Kelley, nome incontornável quando de criatividade se fala, “como um músculo, as tuas habilidades criativas crescem e fortalecem-se com a prática”. O mesmo acontece com competências como o cálculo mental, a arte da escrita e da oratória e a facilidade para as línguas.

Design Thinking, O “Ginásio” da Criatividade
Assim sendo, o que precisamos para sermos master minds criativas é munirmo-nos dos melhores “halteres” para exercitar este grande “músculo” que é o cérebro. É neste âmbito que surge o Design Thinking como uma das metodologias de pensamento criativo mais poderosas (se estivesse no processo de escolha de um “ginásio da mente”, apostaria as minhas fichas no Design Thinking). Esta corrente de pensamento consiste num processo e conjunto de ferramentas que guiam todos aqueles que procuram novas ideias até à solução mais desejada.
Mas como tudo começa com os nossos pré-conceitos e atitudes, a escola de Design Thinking, antes de mais, desafia-nos a abraçar um conjunto valores e de novas formas de pensar e, especialmente, de agir.

Em primeiro, será necessário termos a tal consciência de que somos seres criativos por natureza
(“confiança criativa”, segundo David Kelley) e perceber que precisamos de ter a coragem de “sujar as mãos” e colocar as “mãos na massa”/fazer-acontecer. Como se trata de um processo desconfortável, que nos tira da nossa zona de conforto, devemos, também, desenvolver resistências para prosperarmos em climas de ambiguidade, percebendo o erro como uma aprendizagem e, até, uma bênção – errar rápido e a baixo custo é o principal objetivo do processo. Estas duas últimas valências estão de braço dado com a necessidade de desenvolvermos uma postura otimista e, até alegre, para tirarmos o máximo
partido das ferramentas criativas. E como todas as ideias têm o propósito de servir um determinado target, o Design Thinking revela como conceito fundamental a empatia: muito diferente de simpatia, a empatia é o fator de diferenciação desta metodologia.

Nas universidades de marketing é-nos ensinado que o objetivo do profissional da área é dar resposta a necessidades do mercado, sendo que, antes de mais, devemos aferir que necessidades são essas, através de instrumentos de recolha de informação.

Como profissional na área de marketing, gestão de marca e produto, reconheço o plus que o processo e ferramentas de Design Thinking acrescentam a todo este aprendizado: ferramentas mais eficientes de recolha e compreensão dos dados (mais do que tratamento), a proximidade com o user, o envolvimento mais profundo com o problema/necessidade, e o desafio da empatia tornam este processo de “estudo do mercado” mais rico, profundo e genuíno. Tudo isto permite-nos desenvolver soluções mais adaptadas e verdadeiramente desejadas pelos consumidores.

Outro préstimo desta metodologia para estes profissionais prende-se com o desenvolvimento de soft skills necessárias para os gestores do presente-futuro: a capacidade de envolver e mobilizar as pessoas, o otimismo e flexibilidade para trabalhar em ambientes de stress e pressão, a coragem para colocar em causa e melhorar as formas de executar as suas funções, a perceção da “all picture” e do impacto das nossas micro funções no processo total, a habilidade de interpretar e resolver os chamados “wicked problems”… Agora que reflito sobre o tema, estes “danos colaterais” da prática do Design Thinking estão plenamente alinhados com as top ten skills desejadas para os profissionais no ano 2020 (World Economic Forum).

Metodologia, Processo e Fases de Design Thinking:
Existem diferentes escolas de Design Thinking sendo que, nas minhas formações e atividade profissional, me identifico mais com o processo apresentado pela d.school/IDEO, dos irmãos Kelley e Tim Brown.

A d.school apresenta um processo composto por cinco fases: Empatia, Definição, Ideação, Prototipagem e Teste. Tudo começa com as pessoas e, por isso, a primeira fase desta metodologia consiste no estudo das pessoas e das suas necessidades, através de um conjunto de ferramentas de Empatia. Mergulhados no máximo de informação possível, a certa altura impõe-se como necessário priorizar as questões de resolução mais premente, através de estratégias de Definição de problemas. Selecionado e partilhado pela equipa de trabalho o desafio, iniciamos um novo ciclo com a fase de geração de ideias – a Ideação, sempre em constante interligação com a fase de Prototipagem. Após esta fase de “hands on” avançamos para o Teste de soluções, e recolha efetiva de feedback sobre os protótipos selecionados.

Incorporada essa nova informação, é tempo de festejar: temos as soluções desejadas para o consumidor e viáveis do ponto de vista da empresa. Resolvidos os estereótipos sobre a criatividade, introduzidas as ferramentas de desbloqueio dessa competência, convido todos os “corajosos” que chegaram ao fim desta partilha a “touch the [creativity] snack” de Albert Bandura. Esta pseudo-piada é o mote para deixar um último contributo para todos os curiosos sobre o tema: quando sou questionada sobre “como começar” esta jornada pelas ferramentas criativas, aconselho a leitura do livro “Creative Confidence” de David & Tom Kelley. Boa viagem!

 

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Sobre a autora
A Dina Oliveira é formada em Marketing pelo IPAM e Universidade de Aveiro e especializada em Design Thinking pela EDIT. Porto. Após uma aventura de cinco anos numa agência de comunicação, integrou durante dois anos a equipa de inovação Sonae. Atualmente, acumula as funções de Gestor de Marca e Produto na Yämmi e Agente de Inovação na Sonae MC. Dado o seu know how nas áreas, a Dina é tutora do Workshop Design Thinking for Doers e dos cursos Design Thinking for Business Innovation e Digital Design na EDIT. Porto.


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