Sim, bem sei que não é qualquer um que pode criar e implementar uma campanha publicitária, que pode potenciar vendas ou que pode fazer magia em 30’ ou 15’. Certinho. Mas ainda assim não é preciso ser um génio. E ainda bem.
Contrariamente a isto, é possível, se começaram agora a enveredar por estas artes, que se sintam como o miúdo que acabou de entrar para a primária. Mas não se deixem intimidar pelos anglicismos, abreviaturas ou pela barba de 2 semanas dos vossos colegas. Há coisas que são mais simples do que parecem.
5 características de um bom criativo/estratega:
Ter empatia – Saber colocar-se no lugar das outras pessoas e ouvir o consumidor. Gostar de pessoas. Não trabalhar para o ego, mas em prol do consumidor e em equipa.
Vontade de aprender – Pode passar por aperfeiçoar conhecimentos naquilo que mais gostamos ou ir beber mais informação sobre a última trend do mercado. A publicidade é, desculpem-me o cliché, como a vida. Está em constante mutação e preguiçosos não entram a bordo!
Não ter preconceitos e pré-conceitos – Colocar o que é dado como certo em causa. Questionar. Respeitar todas as pessoas e não criar preconceitos com nenhum hábito de
consumo. Não fazer perguntas que respondem ao que queremos ouvir. Não acreditar em perguntas ridículas. Saber agarrar o desconhecido.
Saber arriscar (e sonhar) – Para fazer algo surpreendente e que acrescente valor é necessário deixar de percorrer os mesmos caminhos, aqueles que nos são demasiado familiares. É necessário ousar sonhar. E fazer, claro.
Bom senso – Tudo isto só faz sentido se tivermos uma última característica fundamental – bom senso! Ele é necessário para percebermos “que esta é altura de arriscar e de sonhar, ou que não, que esta é altura de permanecer nos eixos”. Chamem-lhe intuição ou discernimento, o bom senso ou se tem ou não se tem.
E não, não é preciso ser um génio para se ter estas características. Aliás, poderá ser preferível não o ser. É que a maioria dos ditos génios andam no mundinho deles, mas quem vive da publicidade deve morar no Mundo de todas as pessoas, sejam estas velhas ou adolescentes, estudantes ou mães. É preciso colocarmo-nos, ainda que temporariamente, ao mesmo nível de todas, mas mesmo todas, as pessoas e conseguir passar a mensagem, desculpem-me a simplicidade, de uma forma bonita.
A título explicativo, e em jeito de conclusão, deixo-vos este exemplo retirado do livro “Paula” de Isabel Allende.
A minha mãe, sentada como uma imperatriz mesmo no centro da praia, apanhava sol de manhã e à tarde ia jogar ao Casino: tinha descoberto uma artimanha que lhe permitiu ganhar todas as tardes o suficiente para as suas despesas. Para evitar que nos afogássemos arrastados pelas vagas daquele mar traiçoeiro, Margara atava-nos com cordas que enrolava à cinta enquanto tricotava intermináveis casacos para o Inverno; quando sentia um puxão erguia ligeiramente a vista para ver quem estava em apuros e puxando pela corda arrastava-o de volta à terra firme. Sofríamos diariamente essa humilhação, mas mal mergulhávamos na água esquecíamos as graçolas dos outros miúdos.
Portanto, nos anos 50’, algures no Chile, a ama Margara decidiu enrolar uma corda à volta das crianças sedentas de brincadeira, enquanto desfrutava da praia. Será óbvio acrescentar que hoje as cordas foram substituídas por apps de geolocalização e que as amas são cada vez mais raras, mas isso são efeitos dos ventos da mudança. E há coisas que vêm por bem.