A Publicidade não é para génios

Artigo

Ana Sustelo, Digital Strategist & Content Manager na Tux & Gill, frequentou o Curso Digital Marketing & Strategy - edição 2013 e explica quais são as características necessárias para ser um bom criativo/estratega na criação e implementação de campanhas publicitárias.

Comecemos este artigo com uma ida à máquina do tempo. Afinadas as engrenagens da memória e colocada a pitada necessária de imaginação, é hora de recuarmos aos tempos da escola primária.

Sabem aquela sensação de entrarem pela 1ª vez na escola e acharem que os miúdos de 10 anos são adultos feitos, capazes das mais incríveis façanhas, como cortar o bife ou irem à casa de banho com imensa destreza e total independência? Eu lembro-me! E, bolas, como podiam ser intimidantes!

Isto é mais ou menos comum a tudo o que é novidade. A tudo o que nos parece superior a nós, mesmo que esse ser superior e iluminado seja um miúdo de 10 anos no alto do seu 1,30m de perfeita maturidade.

Todo este floreado para dizer o que o título deste artigo já deixa adivinhar: a publicidade não é para génios!

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Sim, bem sei que não é qualquer um que pode criar e implementar uma campanha publicitária, que pode potenciar vendas ou que pode fazer magia em 30’ ou 15’. Certinho. Mas ainda assim não é preciso ser um génio. E ainda bem.

Contrariamente a isto, é possível, se começaram agora a enveredar por estas artes, que se sintam como o miúdo que acabou de entrar para a primária. Mas não se deixem intimidar pelos anglicismos, abreviaturas ou pela barba de 2 semanas dos vossos colegas. Há coisas que são mais simples do que parecem.

5 características de um bom criativo/estratega:

Ter empatia – Saber colocar-se no lugar das outras pessoas e ouvir o consumidor. Gostar de pessoas. Não trabalhar para o ego, mas em prol do consumidor e em equipa.

Vontade de aprender – Pode passar por aperfeiçoar conhecimentos naquilo que mais gostamos ou ir beber mais informação sobre a última trend do mercado. A publicidade é, desculpem-me o cliché, como a vida. Está em constante mutação e preguiçosos não entram a bordo!

Não ter preconceitos e pré-conceitos – Colocar o que é dado como certo em causa. Questionar. Respeitar todas as pessoas e não criar preconceitos com nenhum hábito de
consumo. Não fazer perguntas que respondem ao que queremos ouvir. Não acreditar em perguntas ridículas. Saber agarrar o desconhecido.

Saber arriscar (e sonhar) – Para fazer algo surpreendente e que acrescente valor é necessário deixar de percorrer os mesmos caminhos, aqueles que nos são demasiado familiares. É necessário ousar sonhar. E fazer, claro.

Bom senso – Tudo isto só faz sentido se tivermos uma última característica fundamental – bom senso! Ele é necessário para percebermos “que esta é altura de arriscar e de sonhar, ou que não, que esta é altura de permanecer nos eixos”. Chamem-lhe intuição ou discernimento, o bom senso ou se tem ou não se tem.

E não, não é preciso ser um génio para se ter estas características. Aliás, poderá ser preferível não o ser. É que a maioria dos ditos génios andam no mundinho deles, mas quem vive da publicidade deve morar no Mundo de todas as pessoas, sejam estas velhas ou adolescentes, estudantes ou mães. É preciso colocarmo-nos, ainda que temporariamente, ao mesmo nível de todas, mas mesmo todas, as pessoas e conseguir passar a mensagem, desculpem-me a simplicidade, de uma forma bonita.

 

A título explicativo, e em jeito de conclusão, deixo-vos este exemplo retirado do livro “Paula” de Isabel Allende.

A minha mãe, sentada como uma imperatriz mesmo no centro da praia, apanhava sol de manhã e à tarde ia jogar ao Casino: tinha descoberto uma artimanha que lhe permitiu ganhar todas as tardes o suficiente para as suas despesas. Para evitar que nos afogássemos arrastados pelas vagas daquele mar traiçoeiro, Margara atava-nos com cordas que enrolava à cinta enquanto tricotava intermináveis casacos para o Inverno; quando sentia um puxão erguia ligeiramente a vista para ver quem estava em apuros e puxando pela corda arrastava-o de volta à terra firme. Sofríamos diariamente essa humilhação, mas mal mergulhávamos na água esquecíamos as graçolas dos outros miúdos.

Portanto, nos anos 50’, algures no Chile, a ama Margara decidiu enrolar uma corda à volta das crianças sedentas de brincadeira, enquanto desfrutava da praia. Será óbvio acrescentar que hoje as cordas foram substituídas por apps de geolocalização e que as amas são cada vez mais raras, mas isso são efeitos dos ventos da mudança. E há coisas que vêm por bem.

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As ideias de génio, elaboradas por pessoas comuns, nascem assim, muitas vezes de mansinho e sem darmos por elas. Nascem de necessidades banais e carecem apenas de um espírito recetivo e de um olhar atento que lhe dê forma.


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