Esta é a questão a que muitas marcas estão a procurar responder. Como sempre, quando a novidade chega, muitos gestores de marca e social media estão a ser pressionados para entrar nesta nova rede. A questão a fazer é: faz sentido? E a resposta a dar é “Sim, não e talvez”. Vejamos em detalhe.
Em primeiro lugar, no que concerne a marcas a melhor forma de analisar os possíveis resultados de uma decisão é colocar a lente do consumidor na análise dos vários cenários e implicações. Isto é, da perspetiva do consumidor, aquela decisão impacta positivamente aqueles que são os meus consumidores, o meu target enquanto marca? Acrescenta alguma coisa à interação destas pessoas com a marca? Façamos este raciocínio aplicado à decisão de uma marca entrar numa plataforma como o TikTok. Se a resposta for sim, devemos passar ao nível seguinte. Que papel é que este canal terá na minha interação diária com os meus consumidores? Vai-se focar numa lógica de awareness, vai-se focar no envolvimento entre marca e consumidores?
Quando uma marca decide entrar num universo tão particular como o TikTok, tem de ter estas respostas prontas. Uma comunidade tão particular como a desta rede social não tolerará uma presença desadequada, desinformada – rapidamente a conta será rotulada de irrelevante. Quando a resposta às questões é sim, resta definir como lá estaremos e para que lá estaremos. Podemos aproveitar o enviesamento para um target mais jovem (não tão jovem como muitos pensam) para falar, dependendo da nossa marca, com o nosso utilizador e não com o comprador (falo, por exemplo, de marcas de produtos para crianças/jovens), podemos aproveitar, como brilhantemente o fazem algumas marcas, para trabalhar o nosso employer branding e mostrar o backstage da nossa marca – como aquilo que por vezes parece magia é na verdade o resultado de trabalho de muitos elementos da nossa equipa – ou simplesmente para, à boa maneira da própria plataforma, entreter os nossos consumidores, promover a relação emocional com os nossos produtos e marca e desafiá-los a fazer parte do nosso universo. Como? Através de conteúdo produzido por nós, através da criação dos tão nativos hashtag challenges ou navegando em algumas tendências (desde que façam sentido dentro do tom da marca e dos seus territórios). A publicidade, no conceito tradicional que a palavra por si só traz, não será a melhor estratégia. Se há alguma coisa que esta plataforma traz aos seus utilizadores é o conjunto mais poderoso de ferramentas de produção autónoma de conteúdo, concentradas numa só aplicação. Se queremos jogar o jogo, temos de o fazer pelas regras e não assumir que a forma como sempre fizemos comunicação serve. Não serve, e a culpa não é do TikTok.
Por outro lado, há também que ter a humildade, como tivemos com vários canais ao longo dos últimos anos, de reconhecer que não somos marca para o TikTok. Não temos relevância no target que esta plataforma nos tem para integrar, não temos temáticas que, em simultâneo, sejam relevantes para nós e para os utilizadores existentes na plataforma. E não tem problema algum. Não é por esta ser o último hype do panorama do social media que todos temos de saltar para dentro do barco. Podemos decidir não abraçar este novo canal simplesmente porque nada de relevante temos a trazer para ele e este não nos traz nada que acrescente valor ao nosso negócio e marca.
No entanto, muitas vezes, fica a dúvida. E nesse caso, a melhor recomendação é testar. Como tudo no Marketing, nada há de melhor como testar para ter a certeza sobre a capacidade de uma determinada iniciativa ou canal em trazer novidade à nossa marca e à interação que temos com os nossos consumidores e potenciais consumidores. Qual o risco? Quase nenhum. Mantendo-nos coerentes com a personalidade da nossa marca, o seu tom de voz e as temáticas que os consumidores, por via de um trabalho de consistência séria em vários canais, durante vários anos, associam à nossa marca, podemos experimentar novos canais e avaliar in loco a sua relevância e eficácia.
Hoje, o TikTok é das plataformas de social media em que o orgânico ainda é capaz de nos trazer mais valor. Está numa fase distinta de maturidade, quando comparativamente com o Facebook e o Instagram, e portanto podemos tirar partido deste contexto para pequenos testes. O essencial, como referido, é lembrarmo-nos que aquela não é a nossa casa, nós não mandamos ali. Ali mandam todos os criadores de conteúdo que rapidamente definiram as regras de como estar presente no TikTok e qual o tipo de conteúdo que lá vive e cresce. Resta-nos a criatividade para perceber como nos podemos moldar enquanto marca para falar com aqueles utilizadores, na sua linguagem, sem comprometer aquela que é a nossa mensagem e a nossa forma de estar. Desafiante? Sim. Pode valer a pena? Sim. É um canal que veio para ficar? Talvez. Mudou as expectativas dos utilizadores (mais jovens, principalmente) sobre a comunicação e o conteúdo que consomem? Sem dúvida alguma.
Artigo escrito pelo tutor José Silva.