Nuno Martino
Head of UX Design

Entrevista

Nuno Martino é Head of UX Design na Namecheap, Inc e tutor da EDIT. Em entrevista, conta-nos o seu percurso, os desafios que na sua opinião enfrenta um UX&UI Designer e ainda dá alguns conselhos para quem ambiciona entrar no mundo digital.

Para mim um UX designer tem que ser multifacetado e deverá conhecer bem disciplinas que vão para além do design.


Fala-nos um pouco sobre o teu percurso académico e experiências profissionais.

Há mais de 20 anos e, numa altura em que a maioria dos designers via o design digital com alguma desconfiança e como uma disciplina menor, eu vi nesta área uma oportunidade incrível e sem precedentes. Felizmente o meu instinto estava certo.

Comecei por trabalhar numa pequena agência no Porto, chamada Caleida (extinta entretanto), que tinha uma especial vocação em trabalhar com entidades culturais. Isso permitiu-me ter contacto com projetos excepcionais, como o primeiro site da Fundação de Serralves, Fantasporto, entre outros.

Após essa primeira experiência, passei pela Seara e por algumas agências de publicidade do Porto, como a Sino Design e A Transformadora.

Nas agências tive a oportunidade de desenvolver projetos mais integrados e constituídos por equipas multi disciplinares que, obviamente, solidificava os projetos e atribuia-lhes maior pertinência.

Finalmente, desde 2015, trabalho na Namecheap. Inicialmente como UX Designer Senior e, desde 2016 e até hoje, como Head of UX Design. Hoje lidero uma equipa que conta com mais de 40 elementos. Tem sido uma aventura e tanto.

Em termos académicos sou licenciado em Design de Comunicação, pela ESAD Matosinhos.


Que desafios enfrenta um UX&UI Designer, na tua opinião?

Para além das constantes mudanças tecnológicas e sociais que, por si só, já são um enorme desafio, exigindo a constante adaptação, existem outros desafios, talvez mais complexos. Para mim um UX designer tem que ser multifacetado e deverá conhecer bem disciplinas que vão para além do design.

Para além de ser dotado de espírito crítico, tem que conhecer diversas metodologias e dominar várias ferramentas e saber adaptá-las ao desafio que lhe propõem, tem que conhecer bem o negócio e o seu contexto, tem que saber interpretar métricas que o conduzam a tomar decisões mais assertivas, tem que ser dotado de uma grande empatia e capacidade para se colocar na pele dos utilizadores. Enfim, isto são apenas alguns exemplos que, de facto, constituem um grande desafio para todos os UX Designers.


Na tua perspetiva, quais serão as tendências no UX&UI design a curto-médio prazo?

 

Penso que uma das tendências a curto-médio prazo será a tentativa de personalização de interfaces a cada utilizador.

Tal como já acontece com conteúdos, em que muitas marcas colocam à frente do utilizador os conteúdos que, supostamente, são mais relevantes, poderemos caminhar para um nível de personalização ainda mais profundo. Não só teremos uma hierarquização e personalização dos conteúdos, mas também de um interface que, baseado em análise de dados e patterns, se adapta de acordo com que algoritmo considera ser uma experiência mais relevante para aquele utilizador em específico. Obviamente que eu não sou grande apologista desta abordagem, pois considero que um interface e experiência de utilizador deverá ter uma lógica e uma narrativa própria e exclusiva, adaptada a um determinado contexto e é perigoso deixarmos esses princípios serem manipulados ou alterados por um algoritmo.


Tens alguma meta profissional definida que gostasses de atingir?

Mais de que uma meta profissional individual, o que mais ambiciono é continuar a observar uma evolução e maior maturidade do mercado e das empresas. Obviamente que nós, profissionais desta área, temos uma enorme responsabilidade na evolução e amadurecimento desse mercado e dessas empresas.

Por vezes, denoto uma atitude algo intransigente e dogmática de alguns profissionais que, em nada, ajudam neste amadurecimento, que deve ser baseado, antes de mais, em atos pedagógicos.

Considero que nenhum mercado, empresa, sociedade ou mesmo indivíduo evolui de um grau de imaturidade para um grau de maturidade, num curto espaço de tempo. Os processos de evolução são morosos e cabe, a cada um de nós perceber com muita clareza o contexto em que nos encontramos e, de forma orgânica e natural, introduzirmos os melhores processos, métodos e práticas, até que estes se tornem naturais e incontornáveis. É preciso insistir e educar.

Com o mindset correto e uma atitude mais pedagógica e menos dogmática seremos capazes de criar um mercado mais dinâmico, empresas mais maduras e, desse modo, criar melhores oportunidades de evolução e crescimento de carreira para todos.


Que recursos/plataformas aconselharias para quem quer saber mais sobre a temática de UX&UI?

Das múltiplas referências que podemos encontrar online, gostaria de destacar o projecto Design Better, da Invision, o Mudo pod cast, que ainda por cima é falado em português e onde se abordam várias temáticas relacionadas com a realidade portuguesa, o blog Inside Design, também da Invision, a IDEO, como uma referência incontornável e, por último, Nielsen Norman Group.

Uma outra referência que considero altamente pedagógica e relevante é a série Abstract, da Netflix.


Farás parte da equipa de tutores do novo curso intensivo UX Foundations da EDIT. Porto. Quais são as tuas expectativas?

A maior expectativa e ambição que tenho em relação ao curso de UX Foundations é poder passar a minha experiência e dotar os alunos de ferramentas que possam ser úteis na resolução de desafios futuros. Gostaria de passar estes conhecimentos de modo muito prático e orgânico, pois acredito que esse é o modo mais natural para apreendermos novos conceitos e estabelecer novas sinapses.


Tendo em conta que, atualmente, este é um mercado à procura de profissionais, e cada vez mais existem especialistas na área, que conselho darias para quem ambiciona entrar no mundo digital?

Sejam curiosos, façam muitas perguntas, desconstruam e dissequem experiências e interfaces que gostem e tentem perceber porque gostam, leiam, vão a concertos, vejam filmes, sejam empáticos, sejam abertos, sejam tolerantes, não tenham medo de errar, mas tentem perceber porque erraram e o que falhou, partilhem e sejam abertos a ouvir caminhos alternativos ao caminho que seguem, construam convicções com humildade, mergulhem a fundo no problema que estão a resolver, conceptualizem no papel antes de ir para o computador, sejam positivos, mesmo na adversidade e divirtam-se.



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