Design systems: vantagens e mitos

Artigo

Quais são os prós e os contras dos design systems? Sabes distinguir os mitos e perceber as suas verdadeiras vantagens?O Head of UI/UX da Innovagency e tutor da EDIT. Lisboa, Ruben Ferreira Duarte, desmistifica o conceito neste artigo. Aproveita e esclarece todas as tuas dúvidas sobre design systems.

Dizer que o desenvolvimento cada vez mais evolutivo e continuado de produtos digitais é uma realidade complexa e um dos maiores desafios do design contemporâneo, nada mais é que um simples lugar-comum. O design é hoje, por definição, uma área complexa onde se congregam diferentes saberes e profissionais. A sua intervenção deixou de ser uma ferramenta ocasional para passar a ser um fator de diferenciação e desenvolvimento das marcas de diferentes setores de atividade.

Dos transportes ao comércio, passando pela administração pública, o entretenimento, até pois claro, às telecomunicações, em todos estes setores de atividade e muitos mais, o design tem ganho um papel preponderante no pensamento e desenho de experiências cada vez mais digitais, capazes de transformar o dia-a-dia dos consumidores.

Contudo, toda esta transformação digital teve, ao longo dos tempos, um custo. O design é nos dias de hoje uma disciplina bem diferente daquela que era no passado. Os produtos são cada vez mais complexos, as equipas cada vez mais globais e o processo de evolução e alteração desses mesmos produtos cada vez mais rápido. Se por um lado temos a necessidade do design de perceber o contexto global do problema para conseguir propor uma solução eficaz, por outro lado, temos a necessidade de compartimentar cada vez mais os problemas relacionados com os produtos para os conseguir resolver passo a passo.

Pelo meio de todo este contexto de desafios e oportunidades, o design, na sua vertente digital, através de um diálogo multidisciplinar com diversas áreas do conhecimento, tem encontrado muitas e interessantes abordagens para responder a todas as necessidades.

Os design systems, são mais uma das muitas ferramentas que o design digital tem à sua disposição para, em conjunto com um leque muito alargado de profissionais de diferentes áreas, conseguir contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento dos produtos digitais do nosso quotidiano, fazendo a ponte entre aquilo que é o essencial do processo de design e aquilo que são as necessidades concretas das marcas.

Definição de design systems

Embora a definição de design systems possa variar um pouco conforme a perspetiva de cada equipa, é relativamente simples encontrar alguns pontos comuns entre todas as caracterizações possíveis.

Na generalidade dos casos entende-se que design systems são um conjunto de orientações que funcionam essencialmente como uma base de trabalho comum entre as equipas de desenho e desenvolvimento de um qualquer produto digital. A finalidade principal destes sistemas escaláveis passa por definir de forma evolutiva todos os elementos, componentes e páginas essenciais à construção da user experience (UX) e user interface (UI) de um produto digital.

A construção e integração de diferentes conteúdos nestes conjuntos de orientações poderá depender muito do produto digital que se está a desenhar e desenvolver. Conforme cada projeto, poderá ser necessário incluir diferentes tipos de orientações, o que não desvirtua em nada o conceito de design systems, muito pelo contrário, fortalece sim a sua lógica de adaptabilidade e versatilidade a diferentes tipos de produtos, contextos e equipas.

Vantagens

Os design systems não são apenas mais uma ferramenta para o desenho e desenvolvimento de produtos digitais. São também um contributo muito interessante para aumentar a eficiência do processo de evolução do produto e uma maior rapidez na integração de novos contributos dos utilizadores.

Para além desta premissa de aumento da eficiência e rapidez, os design systems, como qualquer ferramenta, personificam também um conjunto mais alargado de vantagens, que podem ser um argumento muito valioso quando se questionar as mais-valias da utilização desta lógica de desenho e desenvolvimento num qualquer produto.

Afirmação de uma visão modular e evolutiva do produto digital

Adotar uma abordagem como um design systems, pressupõe sempre uma visão modular do processo de desenho. Visão essa que nunca perde a noção da globalidade do produto digital que está a trabalhar, mas que a dada altura consegue circunscrever o seu foco no desenho de componentes mais pequenos. É precisamente esta capacidade de fazer evoluir o produto digital, através da evolução de componentes mais pequenos, que podem dentro de uma equipa ser trabalhados por diferentes profissionais, que ajuda a garantir, segundo uma lógica de design systems, a implementação transversal de um conceito de modularidade, mais do que uma visão absoluta no processo de desenho.

Agilidade na criação, implementação e manutenção de componentes

Pensar segundo uma lógica de componentes tem a vantagem de conseguir autonomizar até certo ponto pequenas partes do desenho do produto. Esta organização modular, aliada à necessidade de documentar todas as etapas e decisões do processo de desenho e a partilha recorrente em equipa de toda essa documentação, garante uma maior agilidade, hierarquia de prioridades e amplitude de opções na gestão de evoluções, testes ou até mesmo experimentalismos que podem em algum momento vir a integrar a versão final do produto digital.

Construção de orientações transversais entre equipas de forma colaborativa

Cada vez mais, os produtos digitais são suportados por equipas localizadas em diferentes pontos do globo. A evolução constante do produto e a oportunidade de integrar diferentes profissionais em diferentes fases do processo trouxe consigo a necessidade de passagem cada vez mais frequente de tarefas entre equipas. Num design system é essencial que todo o desenho seja suportado por documentação de apoio, no fundo uma “fonte da verdade” a que qualquer elemento da equipa possa recorrer quando tem a tarefa de desenhar um novo componente, mas que permita também a inclusão de novos contributos para que esta fonte nunca fique desatualizada ou obsoleta.

Fortalecimento da coerência entre os diferentes componentes

O facto de num design system existir sempre uma necessidade de criar guidelines comuns a todas as equipas, quer sejam de desenho ou desenvolvimento, potencia em grande medida uma abordagem coerente em todos os momentos do produto digital. Se todas as equipas estiverem a trabalhar segundo uma mesma base e contribuírem para um mesmo centro de documentação, para além de ser muito mais fácil encontrar inconsistências nas abordagens, é também relativamente mais simples evitar que essas inconsistências se repitam ou perdurem no tempo.

Otimização do tempo e do custo de desenho e desenvolvimento

Uma abordagem segundo um design system permite uma série de inovações, é certo, mas acima de tudo garante um processo focado na eficácia das tarefas. Eficácia, porque reduz em grande medida o esforço de criação a partir do início de algo, mas também elimina ao máximo tarefas redundantes. Garante que todos os profissionais se concentram naquilo que podem, em cada momento, fazer efetivamente a diferença, criando pelo caminho um histórico do projeto que pode ser reutilizado em diferentes momentos. Eficácia em design systems, quer em última análise dizer, poupanças de tempo e custo, que são sempre argumentos muito valiosos para a gestão de qualquer plano de negócios.

Mitos

Contudo, é fundamental olhar para uma ferramenta como os design systems com algum sentido crítico, pois esta não é a única solução de desenho e desenvolvimento possível de um produto digital. Como qualquer ferramenta, os design systems têm vantagens claras, mas com o tempo também foram aparecendo em torno do tema alguns mitos. Mitos, ou melhor dizendo, falsas ideias, que se geraram em torno da temática e que mais que não são do que visões prematuras e desinformadas da verdadeira abrangência desta ferramenta.

Limitam de forma excessiva a criatividade

Um processo que utilize uma ferramenta como os design systems está longe de ser um processo limitativo da criatividade. Pelo contrário, os design systems ao permitirem, a dada altura do processo, organizar de forma muito concreta tudo aquilo que são os elementos, componentes e páginas fruto da criatividade, otimizam ao máximo tudo aquilo que são tarefas de ligação entre as equipas de desenho e desenvolvimento. Ao simplificar a colaboração entre equipas, os designs systems permitem não só uma ligação mais eficiente, mas também contribuem precisamente para que exista mais tempo disponível no processo para toda a dimensão e dinâmicas criativas de cada metodologia.

Obrigam a padronizar demasiado o desenho do produto

Sistematizar todas as componentes de desenho de um produto num design systems é diferente de padronizar esses mesmos componentes. Enquanto ferramenta, não pretende limitar, seja em número ou forma dos vários componentes, mas sim estabelecer denominadores comuns entre eles, reduzindo ao máximo a redundância ou incoerência entre os vários componentes.

Exigem um planeamento inicial demasiado grande

A modularidade é um dos conceitos fundamentais dos design systems. É possível olhar para este conceito de várias perspetivas, mas uma das mais interessantes é numa lógica de crescimento. Crescimento no sentido em que, para a criação de elementos e componentes replicáveis é preciso pensar que estes ao longo do processo vão crescer em número. Acima de tudo, o mais importante e que contraria de forma categórica este mito, os design systems não necessitam de um planeamento inicial demasiado grande. É preciso sim compreender que tudo aquilo que se vai criando durante o processo deve ter a propriedade de ser replicado e reutilizado.

Só são possíveis de construir com conhecimentos de código

Tempos houve que este mito era bem verdade e que para se criar um design systems eram necessários alguns conhecimentos de código. Mas, nos dias de hoje, nada poderia ser mais enganador. As próprias ferramentas de desenho de produtos digitais, como por exemplo o Sketch ou o Invision, caminharam numa lógica de desenho através de design systems, permitindo logo na fase de criação de protótipos de baixa ou alta fidelidade, implementar lógicas de desenho modulares e de reutilização de elementos e componentes gráficos.

São mais fáceis de criar no final do projeto

Um design system criado no final dos processos de desenho e desenvolvimento é uma ferramenta desnecessária. Desnecessária no sentido de que não se aproveitou a versatilidade e adaptabilidade que algo como os design systems permitem incorporar em qualquer metodologia. Sendo uma ferramenta que permite grandes economias de tempo, implementar um design systems no final ou numa fase já muito avançada do processo torna-se uma redundância, pois não está a libertar nas fases de desenho e desenvolvimento propriamente ditas o tempo que pode ser aplicado noutras tarefas da metodologia.

O tema dos design systems está muito longe de ser uma verdade absoluta ou a única ferramenta possível para o desenho de produtos digitais. São o resultado da evolução natural do design em contexto digital na procura de uma maior eficiência e rapidez, ao mesmo tempo que permite uma participação cada vez maior dos utilizadores nos processos iterativos de evolução dos seus produtos do dia-a-dia. São também um espaço onde cada equipa pode desenvolver as suas aptidões, num contexto que acolhe o erro e o utiliza como fator de evolução, seja ela humana ou tecnológica.


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