Ricardo Monteiro da Silva
Tutor

Entrevista

Ricardo Monteiro da Silva, Creative Lead na Accenture Interactive, revela-nos o seu percurso profissional, e como este culminou com o Design e, posteriormente, o Design Digital.

Como em qualquer área, têm que gostar. E não é um gostar “assim assim”, é um gostar MESMO a sério porque se não gostarem mesmo a sério ao mínimo sobressalto vão saltar fora.


Desvenda-nos um pouco do teu percurso profissional. O que te levou a escolher esta área e profissão?

Olhando para atrás diria que foi a coisa menos aspiracional de sempre já que foi por exclusão de partes. Não sei se ainda é assim, mas no tempo do meu secundário existiam 4 agrupamentos – Científico; Artes; Económico; Humanidades – e tínhamos que escolher um. Científico era para os nerds; económico para os betinhos; humanidades para as góticas; só sobrava Artes. Segui para Artes com a ideia de ser arquitecto mas durante o secundário conheci uma professora de Design que disse que eu tinha jeito para o design e que devia ir para o IADE (Instituto de Artes e Design). Fui totó, acreditei nela, tirei a licenciatura em Design Gráfico e passados 14 anos aqui estou.


Tens uma rotina no teu dia a dia de trabalho? Ou cada dia é diferente?

A única rotina que tenho é beber o café (abatanado de preferência) – sem esse café o corpo não liga.

Quem trabalha/ou numa agência ou numa consultora sabe que não existem dias iguais e a piada está mesmo aí. Se quisesse dias iguais tinha ido para um emprego “normal”.


Que tendências estão a surgir neste campo? E que desafios?

A ideia de trazer o utilizador final para o processo de design – as metodologias de Design Thinking, o user-centered design, etc. São as novas buzzwords. O que é estranho porque o design sempre partiu desse princípio, pensar no utilizador, senão é só um exercício de arte.

O desafio é que quando falas com os utilizadores, em 90% dos casos, o que eles precisam está latente, escondido, e temos que ser nós (designers) a decifrar. Se perguntasses ao consumidor da altura do Ford Model T o que ele queria provavelmente teria dito que queria “cavalos mais rápidos” e não “um carro motorizado”. A solução e o salto criativo parte geralmente da nossa leitura do utilizador.


Podes destacar um ou dois exemplos de uma boa implementação de User Experience e outros dois de utilização de um mau User Experience?

Não vou dar nomes, não fica bem, mas o último projecto que fiz antes de sair da HAVAS para um jornal desportivo é um bom exemplo. Já o concorrente é um mau exemplo. Chega ao cúmulo de teres um destaque na homepage, carregas e vais para uma página que tem um resumo do artigo e só depois de carregares de novo é que chegas ao artigo. Basicamente meteram um click a mais para ganharem mais page views e o utilizador que se lixe. Ridículo.


E por falar em case studies de sucesso, conta-nos um pouco como foi o desenvolvimento do rebranding da ZON / NOS, do qual fizeste parte.

A não repetir… pelo menos tão cedo 🙂 foi duro, mesmo. Imagina o que é fazer a presença (digital) de uma marca em 90 dias, marca essa que estava ainda para ser definida quando começou o projeto. Quando pegámos no projecto sabíamos que a marca ia ter 3 letras e 7 cores, mais nada. Andámos uma série de tempo a fazer layouts com uma marca inventada – aBc e oOo – antes de sabermos que se ia chamar NOS.

Foi uma experiência diferente do que tinha feito até então. Já tinha estado no outro rebranding da Optimus do boomerang para o magma, mas nesse como foi tudo feito in-house na agência (Euro RSCG) era mais fácil de controlar. Com a NOS a Optimus/Zon decidiram passar a criação da marca para a Wolff Olins, uma consultora inglesa especializada em branding, e a coisa acabou por ser mais complexa do que com a passagem boomerang > magma da Optimus. Complexo porque eles tinham ideias muito fixas do que queriam mas percebiam zero de digital – o layout que eles nos apresentaram era bom, mas para os anos 80, aquilo era intragável. O que nos salvou foi o prazo (90 dias) que fez talvez com que eles fossem descartados na parte digital – não havia tempo para andar em jogos de poder. Tínhamos umas reuniões de progresso para eles ficarem felizes mas pouco mais, foi o que nos salvou, a nós e à NOS.

Tirando esse arranque atribulado foi um projecto mágico. Mágico porque havia ali uma espécie de simbiose entre nós e o cliente e sentíamos (no dia-a-dia) que estávamos todos a remar para o mesmo sítio. Durante 90 dias aquela barreira entre cliente e agência não existiu, e talvez só por isso é que foi possível fazer todo o trabalho que se fez.


Há mais algum projeto especial em que tenhas participado e que queiras partilhar?

Tenho a sorte de ter trabalho 11 anos na HAVAS (antiga Euro RSCG), a maior agência de publicidade em Portugal, e por isso acabei por trabalhar sempre bons projectos de grandes clientes. Podia falar de vários projetos mas secalhar o mais memorável pode vir a ser o que tenho agora em mãos na Accenture – a Galp. Ainda estamos no início do que é um projecto de 7 anos (sim, escrevi bem, são mesmo sete anos) e não fizemos por isso ainda muita coisa “palpável” mas se fizermos tudo aquilo a que nos propusemos e com a qualidade que sei que conseguimos fazer, acredito que não me vou esquecer dele tão cedo.


Que recursos utilizas para te manteres atualizado sobre o mundo do design digital e UX?

Gosto de ler artigos no Medium, de ver coisas no Slideshare e ler alguns livros – poucos que não tenho muita pachorra para livros.


Tens algum objetivo profissional definido para cumprir a longo prazo?

Reformar-me cedo e ir viver para um monte alentejano na Costa Vicentina ali para os lados de Odeceixe ou da Arrifana. Parece-me um bom plano.


És tutor do programa Digital Interaction Design na EDIT.. Que aspetos destacas desta experiência?

Gosto do facto de me obrigar a estar actualizado – apesar do meu módulo não ser assim tão excitante para os formandos . Gosto também do facto de conhecer designers novos todos os semestres e de sentir que estou a fazer alguma diferença, para melhor, na vida deles. As aulas ajudam-me também a treinar a parte da comunicação – é como se estivesse a apresentar para um “cliente” novo todos os semestres – e isso ajuda-me no meu dia-a-dia no trabalho.


Na tua opinião, como está o mercado atualmente no que toca a profissionais de User Experience Design? Que características devem ter salientes de modo a vingar na área?

Há falta deles, mesmo!!! Como em qualquer área, têm que gostar. E não é um gostar “assim assim”, é um gostar MESMO a sério porque se não gostarem mesmo a sério ao mínimo sobressalto vão saltar fora. Aquele gostar que te faz passar noites em branco só porque queres fazer uma coisa como deve de ser, e que provavelmente ninguém vai reparar a não seres tu. Aquele gostar que te faz continuar a tentar, e a tentar, e a tentar mais uma vez. Aquele gostar irracional. Tudo o resto é acessório e vem naturalmente com o tempo.



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