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A “síndrome do impostor” afeta todos! Então mesmo com aquele frio na barriga, mostre seu trabalho para o mundo.
Iniciaste o teu percurso académico na área da Publicidade. Como se proporcionou a transição para o Design? Conta-nos um pouco sobre as tuas experiências profissionais.
Foi uma transição natural e zero planejada. Hoje é claro para mim que desde o começo eu queria trabalhar com Design, só não sabia como chamar isso na época.
Com o repertório e vivências que eu tinha até então, eu associava Design a editoração, produções gráficas, desenho industrial e outras áreas que por vezes flertam bastante com as artes visuais.
Eu queria trabalhar na indústria criativa, mas com algo mais ligado à inovação, tendências, tecnologia… Por isso acabei escolhendo a publicidade por considerá-la um campo mais “amplo” (sim, grande ingenuidade! haha).
Por sorte, meu primeiro estágio foi em uma consultoria de pesquisa e estratégia. Foi uma coincidência muito feliz – já que eu não fazia ideia de onde estava me metendo – e que ditou o caminho que eu iria seguir profissionalmente. Lá eu comecei a entender de verdade o que é Design e todas as possibilidades que estavam à minha frente.
Quais os principais papéis e desafios de um Designer Researcher?
Definir o papel de um Design Researcher é uma tarefa que eu acho bastante difícil.
Na teoria, é a pessoa responsável por entender as necessidades, problemas, frustrações e desejos dos utilizadores para traduzir isso em direções para estratégias, produtos e serviços.
Mas na prática, a coisa fica muito mais complexa. Um Design Researcher por vezes é também um influenciador, um terapeuta, um facilitador de conflitos, um oráculo…
Acho que o grande truque é entender as dinâmicas da empresa e da equipa, e onde estão os gaps de conhecimento. A partir daí fica mais evidente como desenvolver projetos que tenham um impacto realmente positivo na vida das pessoas e nos objetivos da empresa.
Quanto aos desafios, acho que esses já são mais comuns a quase todos os lugares onde trabalhei:
– Definir um escopo claro para o projeto: principalmente em estágios iniciais de um produto/serviço, é muito fácil desviar o foco e se perder nas possibilidades que aparecem pela frente.
– Defender o valor e a necessidade de uma pesquisa bem feita (tempo + investimento): apesar de “user-centered design” ser uma das buzzwords do momento, ainda é difícil para muitas pessoas que trabalham na área conseguir suporte/recursos para desenvolver seu trabalho.
– Ter voz e impacto nas decisões relacionadas ao produto: Isso é uma consequência do ponto acima. Se os responsáveis pelo produto não valorizam pesquisa a ponto de investir nisso, dificilmente darão importância aos resultados que surgem dela – principalmente se esses resultados contradizem crenças comuns.
Na tua perspetiva, quais serão as tendências no design digital e UX&UI, a curto-médio prazo?
Acho que o discurso ao redor do “Design Ético” tende a se intensificar ainda mais. Todas as recentes polêmicas envolvendo uso indevido de dados jogaram luz em um tema muito importante: Quanto poder e controle os produtos que usamos podem ter sobre a nossa vida?
O “Design Inclusivo” é outro tema que felizmente vem ganhando bastante força e que me deixa bastante empolgado. Empresas com grande visibilidade como a Microsoft, Ikea e Airbnb já incorporaram essa abordagem em seu “processo criativo” e os resultados são muito inspiradores.
Claro que temos também diversas “novas” tecnologias (Voice Interfaces, Extended Reality, Artificial Intelligence) se tornando mais popularidade e com muito potencial a ser explorado.
Mas já existem muitos artigos bem mais profundos sobre isso! Haha
Qual a importância da formação contínua para os profissionais que atuam nestas áreas do digital?
Para mim é algo fundamental. É um baita clichê dizer isso, mas o mercado está em evolução constante e é muito fácil ficar desatualizado – não só em termos de ferramentas e tecnologias, mas também em relação a comportamentos, tendências e mudanças no mundo.
E eu também vejo o estudo como uma forma de motivação.
Existem muitas abordagens distintas para resolver o mesmo desafio na nossa área. Quanto mais repertório e ferramentas você tiver para explorar, menores as chances do trabalho se tornar algo maçante.
Que recursos/plataformas aconselhas para quem quer saber mais sobre a temática do UX&UI?
Medium: Muzli, Designit, Modus
Newsletters: Dribbble, Adobe 99U, Brainpickings
Podcasts: Invisibilia, 99% Invisible, High Resolution
Livros: Orchestrating Experiences, Just Enough Research, Radical Candor
Eventos: Creative Mornings, Product Design Club, DesignCalendar
Que dinâmicas consideras importantes incluir nas tuas aulas do curso intensivo Digital Product Design & Management, tendo em conta a área que lecionas?
Quando falamos de Estratégia e Pesquisa em Design, eu sinto que é muito fácil se perder na teoria. Existe muita coisa para ser estudada por aí – pensamentos, metodologias, frameworks – e colocar isso em prática pode ser bastante complicado.
Por isso acho importante equilibrar bem esses dois lados (teoria e prática) para ajudar os alunos a desenvolver um pensamento mais crítico e usarem essas ferramentas como complemento/suporte ao seu trabalho, e não apenas seguir um “processo padrão”.
Podes deixar alguns conselhos para quem ambiciona, hoje em dia, entrar neste mercado?
Acho que os 3 principais conselhos que eu daria são:
Esteja envolvido na comunidade de alguma forma.
Fazer networking é algo difícil e zero natural para muita gente (e eu me incluo nessa lista), mas garanto que é algo que fica mais fácil com o tempo.
Participe de comunidades online e offline, vá a eventos locais e entre em contato com pessoas que fazem o que você gostaria de fazer.
Aprenda o que o mercado está pedindo.
Para entrar nesse mercado, você precisa estar familiarizado com o que um Designer de Produto faz o que irão esperar de você.
Estude as descrições das vagas que te interessam para identificar quais skills as empresas buscam. Depois vem o grande desafio: encontrar formas de desenvolvê-las e demonstrá-las nos seus projetos.
Algumas das competências que percebo que estão em bastante discussão atualmente são:
Curiosidade; Empatia; Pensamento crítico; Pensamento analítico; Mentalidade estratégica; Colaboração; Comunicação (visual e escrita) – e, obviamente, algum conhecimento “técnico” (Wireframing, Prototipagem e Visual Design),
Não tenha medo/vergonha de expor seu trabalho.
A “síndrome do impostor” afeta todos! Então mesmo com aquele frio na barriga, mostre seu trabalho para o mundo.
O mercado de Produto em Portugal tem ótimas oportunidades no momento e todos os profissionais com quem tive contato aqui foram super receptivos.
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